Julho chegou com uma notícia muito ruim ao setor produtivo brasileiro em função do anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 50% todos os produtos exportados pelo Brasil a partir de 1º de agosto. Polêmicas e preferências políticas à parte, quero tratar neste espaço dos riscos à economia baiana e como podemos minimizar os impactos diretamente à agropecuária, à agroindústria, à petroquímica e aos serviços.
No último dia 14 de julho, a SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia) divulgou nota técnica alertando que, caso a tarifa de 50% aos produtos brasileiros permaneçam, e novos mercados não sejam encontrados, a redução no PIB baiano esse ano pode ser de 0,38%, o que equivale à perda de R$ 1,8 bilhão circulando em nossa economia.
A redução em nossas exportações chegariam a 5,4%, quando comparado a 2024. No primeiro semestre desse ano, ainda conforme a SEI, a China foi o principal destino de nossos produtos, com uma fatia de 28,2%. Os Estados Unidos ficaram em terceiro lugar, com 8,3%.
Os principais setores impactados seriam papel e celulose com 25,3% de participação, químicos e petroquímicos com 23,5%, borracha e suas obras (inclui pneus) com 11,8%, metalúrgicos com 8,2%, frutas com 8,1%, cacau e derivados com 7,1% e petróleo, com 5%. Juntos, esses produtos respondem por 89% das exportações baianas aos Estados Unidos.
A SEI estima em seu estudo que a tarifa de 50% vai reduzir em 13,2% as exportações de produtos básicos e 85,7% dos industrializados. As perdas estimadas no setor de papel celulose podem chegar a US$ 191 milhões, os químicos e petroquímicos teriam queda de US$ 177 milhões e em terceiro o de borracha, com diminuição de US$ 89,3 milhões. Cacau, café e frutas, juntos, significam redução de US$ 77,5%, Ainda tem a metalurgia com US$ 62,2 milhões e têxtil com US$ 18,4 milhões.
Os segmentos econômicos mais afetados e listados na nota técnica da SEI respondem por 7,8% dos empregos formais na Bahia, ou 210 mil trabalhadores. É óbvio que a redução das exportações vai significar e perda de postos de trabalho, afetando diversos municípios. A FIEB (Federação das Indústrias do Estado da Bahia) estima que apenas em seu setor a perda chegue a 10 mil vagas.
A Bahia será um dos estados mais prejudicados na questão da geração de empregos porque os setores afetados são, na sua maioria, agroindústrias. Impactam, então, diretamente nos postos de trabalho no campo, na produção de eucalipto, borracha natural, cacau, café e frutas.
Outras prejudicadas as agroindústrias de papel e celulose, pneus e borrachas, beneficiamento de cacau, café e sucos (neste caso mais as frutas In natura). Além disso, impacta muito o setor de serviços nos municípios do interior, notadamente nos transportes e alimentação.
A situação é ainda mais dramática no polo de irrigação do Vale do São Francisco, região que engloba Bahia e Pernambuco e possui cerca de 3.000 fruticultores que vendem para os Estados Unidos e outros países. Apenas em 2024 a fruticultura baiana exportou 187 mil toneladas, com o mercado estadunidense absorvendo US$ 71,8 milhões.
A missão de realocar para outros mercados é quase impossível, já que a safra inicia neste mês e até as embalagens para clientes americanos estão compradas. A consequência será a inundação do mercado nacional de mangas que seriam exportadas, o preço desabará com prejuízos imensos aos produtores e até a suspensão da colheita, com milhares de pessoas desempregadas, numa região em que a agricultura é responsável, direta e indiretamente, pela maioria dos postos de trabalho.
Os americanos também serão com certeza impactados nos preços de alguns produtos e derivados. Como o suco de laranja, o café, o cacau e derivados e a carne para o hambúrguer americano. Muitos desses produtos não têm muitas opções de fornecedores no mundo para abastecer o mercado estadunidense de imediato. Alguns atualmente sofrem internacionalmente déficits de estoque em função de fatores climáticos e fitossanitários.
Independente da resolução imediata ou prolongamento da crise tarifária com os Estados Unidos, precisamos iniciar a diversificação de mercados para escoarmos nossa produção. Sei que as questões logísticas, sanitárias e outras são complexas, mas, em função da atual conjuntura, é preciso ampliar, como já tem sido feito, o número de países que recebem nossos produtos.
Tenho participado como presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa da Bahia das reuniões que integram o governo estadual e os setores produtivos. Não há dúvidas que a diplomacia do governo brasileiro terá um papel fundamental na resolução do imbróglio.
O problema, no caso do Brasil, é que esse tarifaço não tem embasamento técnico comercial, como em outros países, já que os Estados Unidos são superavitário na balança comercial conosco. As outras razões citadas para a adoção da medida não têm cabimento e são impossíveis de serem colocadas na mesa de negociação, como a soberania nacional e a influência em decisões internas de poderes de um país.
Nossa expectativa é que as empresas brasileiras e americanas, que serão bastante prejudicadas, juntamente com os parlamentares brasileiros e americanos, possam abrir um canal de conciliação neste que é um jogo em que ambos os países perdem muito.