Na coreografia política de Brasília, há um grupo que raramente perde o passo. Chamado genericamente de centrão, conglomerado de partidos como União Brasil, PP, Republicanos, PSD, Avante, Solidariedade, MDB, entre outros, essa força política não se guia por ideologias, mas por cálculos frios de poder. É o pêndulo que oscila não em função de convicções programáticas, mas da direção do vento no Palácio do Planalto.
O jogo é simples na forma, mas sofisticado na execução. A direita bolsonarista e a esquerda lulista se digladiam na arena ideológica, travando disputas simbólicas e narrativas para manter suas bases mobilizadas. Enquanto isso, o centrão observa, mede, calcula e, com a paciência de um enxadrista profissional, decide para qual lado inclinar seu apoio — não por convicção, mas pela garantia de espaço, orçamento e influência.
Essa estratégia se traduz em um paradoxo público: líderes e presidentes de partidos como União Brasil, PP e PSD não hesitam em criticar duramente o governo federal, seja pela condução econômica, seja pela pauta de costumes. Ao mesmo tempo, ocupam pastas estratégicas na Esplanada, controlando orçamentos bilionários e moldando políticas públicas. É o pragmatismo na forma mais crua: a mão que atira pedras é a mesma que assina convênios e libera recursos.
Ao contrário do PL, que mantém sua bandeira atrelada ao bolsonarismo, ou do PT, que se ancora na defesa do lulismo, o centrão é maleável. Não se compromete com a temperatura das ruas nem com a retórica de palanque. Sua lógica é transacional: oferecer apoio em votações cruciais em troca de cargos, emendas e, sobretudo, influência sobre o fluxo orçamentário.
Na prática, isso significa que, enquanto PT e PL jogam “par ou ímpar”, um jogo rápido, de resultado imediato e previsível, o centrão joga xadrez. Move peças com antecedência, sacrifica peões para ganhar posições e nunca se prende a um único tabuleiro. Sabe que, no fim, quem define a partida não é o discurso inflamado, mas o controle dos mecanismos que fazem a máquina pública funcionar.
O resultado é que, ciclo após ciclo eleitoral, o centrão permanece no centro das decisões, independentemente de quem vença no campo ideológico. A esquerda e a direita absorvem o desgaste da polarização, viram alvo de críticas e enfrentam a rejeição de metade do eleitorado. O centrão, frio e calculista, evita essa corrosão: sai do palco ideológico para atuar nos bastidores, onde os holofotes não cegam e o jogo é jogado com planilhas, números e articulação política milimétrica.
Se há um ensinamento que a política brasileira oferece, é que o poder raramente pertence aos que gritam mais alto, mas sim aos que sabem esperar o momento certo para mover a próxima peça. E nisso, convenhamos, o centrão é campeão invicto.
João Neto é Guarda Civil Municipal Classe Distinta de Salvador, instrutor, palestrante, graduado em Gestão Pública e MBA Executivo em Segurança Privada: Safety e Security, com especializações em Contraespionagem industrial e empresarial, Análise Estruturada e Planejamento Estratégico e, não menos importante, enxadrista.