No coração do Vaticano, a chaminé da Capela Sistina atraiu olhares de milhões ao liberar a tão aguardada fumaça branca. Era 8 de maio de 2025, por volta das 13h no horário de Brasília, quando o sinal confirmou a eleição do novo papa. Milhares de fiéis, reunidos na Praça de São Pedro, celebraram com aplausos e cânticos, enquanto os sinos da Basílica ecoavam. O conclave, iniciado no dia anterior, reuniu 133 cardeais eleitores para escolher o sucessor de Francisco, falecido em abril.
A espera pelo anúncio oficial, o “Habemus Papam”, concentrou a atenção na varanda da Basílica. Peregrinos de diversas nações, segurando bandeiras e rosários, aguardavam a apresentação do novo líder da Igreja Católica. A multidão, estimada em cerca de 50 mil pessoas, incluía famílias, religiosos e curiosos de países como México, Filipinas e Itália.
O processo, envolto em séculos de tradição, seguiu rituais meticulosos, desde o juramento de sigilo até a queima das cédulas. Abaixo, alguns aspectos que marcaram o evento:
Sigilo absoluto: Cardeais foram isolados, sem acesso a celulares ou notícias externas.
Votação secreta: Cada voto foi registrado em cédulas com a frase “Eligo in Summum Pontificem”.
Fumaça como sinal: Compostos químicos garantiram clareza na distinção entre fumaça branca e preta.
A eleição, que exigiu pelo menos 89 votos para alcançar os dois terços necessários, ocorreu após duas fumaças pretas, indicando votações sem consenso. A fumaça branca, produzida com clorato de potássio e outros compostos, simbolizou o sucesso do conclave.
Tradição da fumaça
A fumaça, um dos símbolos mais icônicos do conclave, tem raízes no século XIX. Antes da modernização, a queima de cédulas com palha úmida ou seca gerava confusão, com cores ambíguas que dificultavam a interpretação. Desde 2005, o Vaticano utiliza um sistema avançado, com fornos eletrônicos e compostos químicos específicos. A fumaça branca, feita de clorato de potássio, lactose e colofônia, produz uma nuvem densa e visível. Já a preta, composta por perclorato de potássio, antraceno e enxofre, sinaliza a ausência de um eleito.
O sistema atual, controlado por aquecedores e ventiladores, garante que a fumaça seja clara mesmo em condições climáticas adversas. Cada queima dura cerca de sete minutos, com cartuchos pirotécnicos contendo seis granadas de fumaça. Esse ritual, além de funcional, conecta os fiéis ao passado da Igreja, reforçando a continuidade de uma tradição secular.
Preparativos intensos
A organização do conclave começou semanas antes, após a morte de Francisco em 21 de abril. A Capela Sistina foi fechada ao público em 28 de abril para a instalação da chaminé e de equipamentos de votação. Bombeiros do Vaticano fixaram o cano visível da Praça de São Pedro, enquanto técnicos realizaram varreduras para garantir a ausência de câmeras ou microfones.
Cerca de 180 cardeais, incluindo não eleitores, participaram de cinco congregações gerais entre 21 de abril e 6 de maio. Nessas reuniões, discutiram temas como evangelização, mudanças climáticas e conflitos globais. A missa Pro Eligendo Pontifice, celebrada em 7 de maio na Basílica de São Pedro, marcou o início oficial do processo, com uma meditação conduzida pelo cardeal Raniero Cantalamessa.
O juramento coletivo, seguido pelo comando “Extra omnes” (fora todos), isolou os 133 eleitores na Capela Sistina. A partir desse momento, os cardeais iniciaram as votações, alojados na Casa Santa Marta, onde dividiam quartos simples e refeições coletivas.
Regras do conclave
O conclave é regido pela constituição apostólica Universi Dominici Gregis, de João Paulo II, com atualizações de Bento XVI. Até quatro votações diárias ocorrem, duas pela manhã e duas à tarde. Cada cardeal escreve o nome de seu escolhido em uma cédula retangular, dobrada ao meio, e a deposita em uma urna de prata.
A contagem é feita por três escrutinadores, com revisores verificando os resultados. Se nenhum candidato atinge os dois terços após três dias, uma pausa de 24 horas é realizada para orações. Após 34 votações sem consenso, um “segundo turno” entre os dois mais votados pode ser adotado, mantendo o quórum de dois terços.
Alguns elementos definem o processo:
Bloqueadores de sinal: Impedem comunicações externas, garantindo sigilo.
Cédulas queimadas: Produzem a fumaça que comunica o resultado.
Juramento solene: Cardeais prometem fidelidade às regras e sigilo absoluto.
Urna de votação: Feita de prata, simboliza a solenidade do momento.
O conclave de 2025, com cardeais de cinco continentes, reflete a diversidade da Igreja, com sete brasileiros entre os eleitores: Leonardo Ulrich Steiner, João Braz de Aviz, Paulo Cezar Costa, Odilo Pedro Scherer, Raymundo Damasceno Assis, Geraldo Majella Agnelo e José Freire Falcão.
Emoção na Praça de São Pedro
Quando a fumaça branca surgiu, a Praça de São Pedro tornou-se um cenário de celebração. Cerca de 50 mil pessoas, incluindo peregrinos de países como Nigéria, Índia e Argentina, lotavam o local. Muitos seguravam bandeiras de suas nações, enquanto outros rezavam o terço ou acompanhavam a cobertura ao vivo pelo celular.
A presença de jornalistas de 56 idiomas, segundo o Vatican News, destacou a relevância global do evento. A multidão aguardava o cardeal protodiácono Dominique Mamberti, que apareceria na varanda da Basílica para o “Habemus Papam”. O anúncio, esperado entre 30 e 60 minutos após a fumaça, seria seguido pela bênção Urbi et Orbi, a primeira do novo papa.
A emoção era palpável, com famílias se abraçando e grupos entoando hinos religiosos. A cobertura nas redes sociais, com transmissões em plataformas como YouTube e Facebook, ampliou o alcance do momento, conectando fiéis de todo o mundo.
Química por trás do sinal
A fumaça é produzida por dois fornos: um de ferro fundido, usado desde 1939, e um eletrônico, que adiciona compostos químicos. A fumaça branca resulta de uma mistura de clorato de potássio, lactose e colofônia, criando uma nuvem espessa. A preta, por sua vez, usa perclorato de potássio, antraceno e enxofre, gerando uma fumaça escura.
Cada cartucho pirotécnico, projetado pelo especialista Massimiliano De Sanctis, contém seis granadas de fumaça, acionadas por um botão. O sistema, testado em conclaves anteriores, garante visibilidade mesmo em dias nublados. A evolução tecnológica reflete o esforço do Vaticano em preservar a clareza do ritual para os fiéis.
Anúncio do novo papa
O momento do “Habemus Papam” é um dos mais aguardados. O cardeal protodiácono, da varanda central da Basílica, anuncia o nome de batismo do eleito e seu nome pontifício em latim. Em 2013, a eleição de Francisco foi revelada 45 minutos após a fumaça, um intervalo padrão para a troca de vestes e o juramento de fidelidade.
A Sala das Lágrimas, onde o novo papa reflete antes de aparecer ao público, é um espaço pequeno sob o afresco Juízo Final de Michelangelo. As vestes papais, preparadas em três tamanhos, garantem que o eleito esteja pronto para sua apresentação. A escolha do nome pontifício, como João Paulo ou Bento, oferece pistas sobre as intenções do novo líder.
Legado de Francisco
Francisco, falecido aos 88 anos, marcou seu pontificado com reformas e abertura. Seus dez consistórios diversificaram o Colégio de Cardeais, com maior representação de Ásia e África. Cerca de 80% dos cardeais eleitores de 2025 foram nomeados por ele, refletindo sua visão de uma Igreja missionária.
Temas como ecumenismo, mudanças climáticas e inclusão de minorias dominaram as discussões pré-conclave. A escolha do novo papa, influenciada por esses debates, considerou o perfil global da Igreja, com 1,4 bilhão de fiéis. Nomes como Pietro Parolin, Luis Antonio Tagle e Péter Erdő apareceram entre os possíveis candidatos, embora o resultado permaneça imprevisível.
Curiosidades do papado
O papado, com mais de dois mil anos, acumula histórias fascinantes. O menor pontificado, de Urbano VII, durou 13 dias em 1590, enquanto o mais longo, de Pio IX, se estendeu por 31 anos. Nenhum papa adotou o nome Pedro, em respeito ao primeiro apóstolo.
Outras peculiaridades incluem:
Anel do Pescador: Personalizado para cada papa, é destruído após sua morte.
Sala das Lágrimas: Espaço onde o eleito reflete antes de se apresentar.
Vestimentas variadas: Paramentos são preparados em três tamanhos.
Nomes simbólicos: A escolha do nome papal reflete a visão do pontífice.
O conclave de 2025, com 133 eleitores, reforça a diversidade da Igreja, com cardeais de regiões como América Latina, Ásia e África.
Cronologia dos eventos
O processo de eleição seguiu um calendário rigoroso:
21 de abril: Morte de Francisco, por AVC e insuficiência cardíaca.
26 de abril: Funeral na Praça de São Pedro, com líderes mundiais.
28 de abril: Anúncio da data do conclave.
7 de maio: Início do conclave, com fumaça preta às 16h.
8 de maio: Fumaça branca às 15h, confirmando a eleição.
A preparação incluiu ritos como o cancelamento do Anel do Pescador e do Selo de Chumbo, simbolizando o fim do pontificado anterior. As congregações gerais abordaram prioridades como a evangelização e a resposta às crises globais.
Cobertura global
A eleição atraiu atenção mundial, com transmissões em 56 idiomas pelo Vatican News. Jornais como L’Osservatore Romano distribuíram edições extraordinárias na Praça de São Pedro. A presença de fiéis de diversas nacionalidades, como Nigéria e Filipinas, reforçou o caráter universal da Igreja.
Plataformas como YouTube e Facebook transmitiram o evento ao vivo, conectando milhões de pessoas. A cobertura jornalística, com repórteres de veículos como CNN Brasil e G1, destacou a emoção do momento e a expectativa pelo novo papa.
Detalhes técnicos da votação
Cada cardeal escreve o nome de seu escolhido em uma cédula, depositada em uma urna de prata. Três escrutinadores contam os votos, enquanto revisores verificam a precisão. Após a eleição, o mestre das celebrações litúrgicas pergunta ao eleito se aceita o cargo e qual nome pontifício escolherá.
O sigilo é assegurado por varreduras eletrônicas na Capela Sistina e pela proibição de comunicações externas. Os cardeais, alojados na Casa Santa Marta, seguem uma rotina de orações e votações, mantendo o foco na escolha do novo líder.
Histórias dos conclaves
Os conclaves acumulam episódios marcantes. O mais longo, entre 1268 e 1271, durou quase três anos, levando à criação do termo “conclave”. Em 1978, João Paulo I foi eleito em um dia, mas seu pontificado de 33 dias foi seguido pela eleição de João Paulo II.
Outros momentos históricos incluem:
1271: Cardeais foram privados de comida para acelerar a decisão.
1378: A eleição de Urbano VI causou um cisma na Igreja.
2005: Bento XVI foi eleito na quarta votação, em dois dias.
O conclave de 2025, com dois dias de duração, alinha-se à média histórica de 3,2 dias dos últimos dez conclaves, refletindo a busca por consenso em um colégio diversificado.